sábado, 11 de julho de 2009

Camponesa Cult

Era uma vez uma camponesa cult. Ela era normal, tinha os cabelos castanho claro, os olhos azuis que borravam de maquiagem no canto, pés e bocas pequenos, que faziam-se como sua marca. A camponesa cult gosta de Rock, compra cds compulsivamente. Ela era doce quando queria ser, e fria na maior parte do tempo. Ela era fria porque ela sempre cobrou dela mesma independência. Ela chora sozinha no quarto, pelos motivos mais idiotas. Ela tem coragem. Ela sempre cobra dela mesma coragem. Desde a mais trivial, até a mais impressindível. Ela chora lendo livros. A camponesa se deprime com algumas músicas. Ela sempre busca o impossível. O improvável. O inatingível. Ela quer sair do seu reino e buscar uma nova família. Uma família que não se sinta obrigada a estar com ela por meros laços de sangue. A camponesa adora aventuras e é apaixonada por viagens. Ela gosta de textos complexos, de filmes misteriosos, e de casos não-acabados. Ela acredita em príncipes, mesmo quando dizem pra ela que camponesas não são dignas de terem príncipes, e que essa é uma exclusividade das princesas. Ela não liga, porque ela sabe que o futuro é incerto, e que as princesas muitas vezes sofrem mais do que ela. A camponesa não é só uma camponesa. Ela é uma mulher cult, moderna, que não tá nem aí pra o que os babacas hipócritas dizem, e abomina qualquer forma de veneração fútil e medíocre. Ela gosta de escrever e de ler. Ela gosta de cultura. A camponesa nunca vai entender como uma pessoa normal consegue preferir assistir o filme, do que ler o livro. Ela lê pra conhecer palavras novas, pra usar a imaginação, pra aprender. Ela escreve porque as vezes as coisas ficam entaladas na garganta gritando pra sair. Porque muitas vezes ela sente coisas nas quais ela não gosta de sentir. Aí, ela começa a achar que ela é a única no mundo, e se mata por dentro por isso. Mas, quando ela escreve, as outras pessoas lêem e ela acaba descobrindo que ela é só mais uma no meio de muitas. E, de uma maneira ou outra, ela se sente bem por isso. A camponesa não consegue se apaixonar perdidamente, pelo menos por enquanto. Mas, isso é bom, sabe? Ela tem muitas coisas pra viver, muita vida pela frente. Não dá pra ficar com cara de idiota só de pensar naquele príncipe. Ela tem muitas cicatrizes, e muitas feridas abertas. Ela gosta de conversar, mas no seu reino as pessoas são muito egocêntricas, e na maioria das vezes não acham importante se relacionar com as outras. A camponesa ganhou muitas amigas com o passar do tempo. Amigas de verdade. E amigos também. Ela tem um amigo, em especial, que ela sabe que pode contar pra qualquer coisa. E tem várias amigas – camponesas e princesas – que nunca a abandonam. Mas ela sabe que um dia elas vão ter que se afastar. A camponesa é preparada pra tudo. Ela tá pronta pra sair de casa, pra se afastar das pessoas, pra morar sozinha e pra cuidar dela mesma. Ela tá pronta pra viver. Ela quer sair do castelo em que ela faz papel coadjuvante pra ser a protagonista do mundo novo. Ela quer ser mais. Mais cultura. Mais vida. Mais experiência. Ela vai ser mais. Ela merece ser mais.

Um comentário:

João disse...

bonitos os seus textos...
grande a sua capacidade de criação...
admiro isso nas pessoas..